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Estava eu, depois de cansativo dia de trabalho, a divertir-me com minhas leituras noturnas (e soturnas?), quando me deparei com o parágrafo “Nietzsche combateu a metafísica, retirando do mundo supra-sensível todo e qualquer valor eficiente, e entendendo as idéias não mais como “verdades” ou “falsidades”, mas como “sinais”. A única existência, para Nietzsche, é a aparência e seu reverso não é mais o Ser; o homem está destinado à multiplicidade, e a única coisa permitida é sua interpretação”.
Pensando, especialmente sobre as expressões em destaque, fui caminhando em direção a algumas reflexões sobre a educação brasileira e uma forma de encará-la pragmaticamente. Inicialmente cogitei a respeito do relativismo cultural e em como se dá sua valoração – exemplo: os gostos, costumes, etc. de pessoas de classes baixas são preconceituosamente considerados inferiores aos de classes mais altas; a cultura valorizada é da “elite”, não porque seja melhor (ou pior) que a da “patuléia”, mas sim porque provém da classe que detêm o poder sócio-econômico da sociedade.
Deste ponto, fui levada para o mito da igualdade constituído para validar a democracia – trocando em miúdos: insiste-se em reafirmar a igualdade total entre os homens mesmo que isso signifique contrariar os fatos, como, por exemplo, as diferenças na facilidade e rapidez no aprendizado de uma pessoa para outra mesmo que pertencentes à mesma classe social (isso para me ater a diferenças não polêmicas, afinal não me convém ser obrigada a maiores esclarecimentos!). Tal insistência só me parece necessária tendo em vista uma perspectiva simplista que crê somente ser possível haver democracia se todos forem iguais. Ora, o fato de ser diferente não implica em ser inferior ou superior, logo, não há o menor problema, no que se refere à democracia, que se aceite que a multiplicidade existe, desde que se preste atenção à motivação da valoração feita de determinadas características em detrimento de outras. Explico: imagine que uma criatura tem grande habilidade manual, a pobre coitada é precisa, cuidadosa, faz o diabo com as mãos; agora imagine uma outra criatura com uma facilidade nata para o raciocínio lógico, o infeliz faz o que quer com os números. E, finalmente, imagine uma sociedade configurada de modo que o trabalho “braçal”, por um motivo qualquer, tivesse levado uma determinada parcela da população a ter mais poder a ponto de dominar a outra. Nesse caso, pergunto, qual seria a atividade mais valorizada: a de um pedreiro ou de um engenheiro civil?
Bem, sabemos que em nossa sociedade, a habilidade culturalmente mais valorizada é o raciocínio lógico, afinal existem muito mais engenheiros bem sucedidos do que pedreiros. As atividades “intelectuais” são consideradas mais difíceis que as “braçais”. Convido você, meu leitor, a despir-se de seus preconceitos: será que é assim tão mais fácil construir um prédio do que projetá-lo, ou será que são apenas dificuldades em diferentes aspectos? Será que essa valoração não ocorre porque os engenheiros são da classe dominante e os pedreiros não? A julgar pelos engenheiros civis e pedreiros que conheço, penso que não, mas isso provêm de meus preconceitos e suas motivações, portanto, deixo a seu critério, crítico leitor, pensar nos seus preconceitos e nas motivações deles…
Pois bem, me pergunta um leitor ansioso, mas e a educação com isso? Calma, meus caros, já chegarei lá. Resta ainda dizer para onde caminhou minha reflexão depois desse último tópico. Então lhes digo, apressados, o que tem com isso a educação: o bendito (ou seria mais para maldito?) construtivismo me veio à cabeça neste exato momento. Por que? Simples: a idéia básica do construtivismo é que o conhecimento não é transmitido, mas sim construído a partir de sabe-se lá que conhecimento prévio um indivíduo tenha. Pois bem, acompanhemos o cálculo: se a valorização de determinadas características e conhecimentos constantes na cultura da “elite” é maior do que aquela do “Zé povinho” e a cultura que se “constrói” na escola é obviamente a mais valorizada, já que esta é um dos maiores instrumentos de poder da classe dominante sobre a dominada (capaz de incluir e excluir um indivíduo do meio social onde está o poder sócio-econômico e cultural); logo, um pobre infeliz saído da favela não terá nenhum (ou quase) maldito conhecimento prévio (da cultura de uma classe que não é a sua e com a qual talvez nem tenha ainda contato) sobre o qual se possa construir qualquer coisa para que ele consiga chegar pelo menos perto das possibilidades que tem um estudante da classe dominante (como nós), como queríamos demonstrar.
E não digo, com isso, que eles poderiam ser como nós ou poderiam o que podemos sem o construtivismo – seria demasiado utópico. Mas isso não nos torna menos democráticos – a democracia nunca esteve associada ao socialismo (e igualdade entre classes), o qual sempre flertou com o autoritarismo; nossa querida democracia sempre esteve lado a lado com o capitalismo (qual é mesmo o país do slogan “esse é um país livre”? ah sim, o dono do Império Capitalista…) e ao lado dele, a desigualdade de classes que lhe dá sustentabilidade. Vivemos numa sociedade que é pautada na diferença e quer nos convencer de uma aparência de igualdade.
Deixemos a hipocrisia de lado e aceitemos uma realidade que não parece possível de mudar (afinal, não se pode mudar a sociedade sem mudar a natureza humana e esta não está em “mãos divinas” ou, talvez pior, em mão humanas?). Mas não se desespere, meu crente leitor, ainda podemos ver o mundo tal qual é, transmitir o que deve ser transmitido, construir o que deve ser construído, cada um da melhor maneira possível, sempre tendo em vista, não a igualdade, mas a humanização (esta no sentido de acabarmos com a cada vez mais disseminada raça dos meta-macacos), que é, no fim das contas, o que possibilita a verdadeira democracia.

Estava eu, depois de cansativo dia de trabalho, a divertir-me com minhas leituras noturnas (e soturnas?), quando me deparei com o parágrafo “Nietzsche combateu a metafísica, retirando do mundo supra-sensível todo e qualquer valor eficiente, e entendendo as idéias não mais como “verdades” ou “falsidades”, mas como “sinais”. A única existência, para Nietzsche, é a aparência e seu reverso não é mais o Ser; o homem está destinado à multiplicidade, e a única coisa permitida é sua interpretação”.
Pensando, especialmente sobre as expressões em destaque, fui caminhando em direção a algumas reflexões sobre a educação brasileira e uma forma de encará-la pragmaticamente. Inicialmente cogitei a respeito do relativismo cultural e em como se dá sua valoração – exemplo: os gostos, costumes, etc. de pessoas de classes baixas são preconceituosamente considerados inferiores aos de classes mais altas; a cultura valorizada é da “elite”, não porque seja melhor (ou pior) que a da “patuléia”, mas sim porque provém da classe que detêm o poder sócio-econômico da sociedade.
Deste ponto, fui levada para o mito da igualdade constituído para validar a democracia – trocando em miúdos: insiste-se em reafirmar a igualdade total entre os homens mesmo que isso signifique contrariar os fatos, como, por exemplo, as diferenças na facilidade e rapidez no aprendizado de uma pessoa para outra mesmo que pertencentes à mesma classe social (isso para me ater a diferenças não polêmicas, afinal não me convém ser obrigada a maiores esclarecimentos!). Tal insistência só me parece necessária tendo em vista uma perspectiva simplista que crê somente ser possível haver democracia se todos forem iguais. Ora, o fato de ser diferente não implica em ser inferior ou superior, logo, não há o menor problema, no que se refere à democracia, que se aceite que a multiplicidade existe, desde que se preste atenção à motivação da valoração feita de determinadas características em detrimento de outras. Explico: imagine que uma criatura tem grande habilidade manual, a pobre coitada é precisa, cuidadosa, faz o diabo com as mãos; agora imagine uma outra criatura com uma facilidade nata para o raciocínio lógico, o infeliz faz o que quer com os números. E, finalmente, imagine uma sociedade configurada de modo que o trabalho “braçal”, por um motivo qualquer, tivesse levado uma determinada parcela da população a ter mais poder a ponto de dominar a outra. Nesse caso, pergunto, qual seria a atividade mais valorizada: a de um pedreiro ou de um engenheiro civil?
Bem, sabemos que em nossa sociedade, a habilidade culturalmente mais valorizada é o raciocínio lógico, afinal existem muito mais engenheiros bem sucedidos do que pedreiros. As atividades “intelectuais” são consideradas mais difíceis que as “braçais”. Convido você, meu leitor, a despir-se de seus preconceitos: será que é assim tão mais fácil construir um prédio do que projetá-lo, ou será que são apenas dificuldades em diferentes aspectos? Será que essa valoração não ocorre porque os engenheiros são da classe dominante e os pedreiros não? A julgar pelos engenheiros civis e pedreiros que conheço, penso que não, mas isso provêm de meus preconceitos e suas motivações, portanto, deixo a seu critério, crítico leitor, pensar nos seus preconceitos e nas motivações deles…

Pois bem, me pergunta um leitor ansioso, mas e a educação com isso? Calma, meus caros, já chegarei lá. Resta ainda dizer para onde caminhou minha reflexão depois desse último tópico. Então lhes digo, apressados, o que tem com isso a educação: o bendito (ou seria mais para maldito?) construtivismo me veio à cabeça neste exato momento. Por que? Simples: a idéia básica do construtivismo é que o conhecimento não é transmitido, mas sim construído a partir de sabe-se lá que conhecimento prévio um indivíduo tenha. Pois bem, acompanhemos o cálculo: se a valorização de determinadas características e conhecimentos constantes na cultura da “elite” é maior do que aquela do “Zé povinho” e a cultura que se “constrói” na escola é obviamente a mais valorizada, já que esta é um dos maiores instrumentos de poder da classe dominante sobre a dominada (capaz de incluir e excluir um indivíduo do meio social onde está o poder sócio-econômico e cultural); logo, um pobre infeliz saído da favela não terá nenhum (ou quase) maldito conhecimento prévio (da cultura de uma classe que não é a sua e com a qual talvez nem tenha ainda contato) sobre o qual se possa construir qualquer coisa para que ele consiga chegar pelo menos perto das possibilidades que tem um estudante da classe dominante (como nós), como queríamos demonstrar.
E não digo, com isso, que eles poderiam ser como nós ou poderiam o que podemos sem o construtivismo – seria demasiado utópico. Mas isso não nos torna menos democráticos – a democracia nunca esteve associada ao socialismo (e igualdade entre classes), o qual sempre flertou com o autoritarismo; nossa querida democracia sempre esteve lado a lado com o capitalismo (qual é mesmo o país do slogan “esse é um país livre”? ah sim, o dono do Império Capitalista…) e ao lado dele, a desigualdade de classes que lhe dá sustentabilidade. Vivemos numa sociedade que é pautada na diferença e quer nos convencer de uma aparência de igualdade.
Deixemos a hipocrisia de lado e aceitemos uma realidade que não parece possível de mudar (afinal, não se pode mudar a sociedade sem mudar a natureza humana e esta não está em “mãos divinas” ou, talvez pior, em mão humanas?). Mas não se desespere, meu crente leitor, ainda podemos ver o mundo tal qual é, transmitir o que deve ser transmitido, construir o que deve ser construído, cada um da melhor maneira possível, sempre tendo em vista, não a igualdade, mas a humanização (esta no sentido de acabarmos com a cada vez mais disseminada raça dos meta-macacos), que é, no fim das contas, o que possibilita a verdadeira democracia.

Fonte: http://coelhobranco.portablogs.com/reflexes-sobre-a-educao-brasileira/

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Por Flávio Gikovate


O prazer erótico de caráter exibicionista é um tanto independente de quem é que está assistindo nosso show. O observador não é totalmente irrelevante, já que uma moça sempre preferirá ser olhada com desejo por um homem que ela valorize do que por um outro que não seja diferenciado (segundo os critérios dela). Em todos os casos, se as pessoas que estiverem nos olhando tiverem uma reação negativa, padeceremos da terrível dor da humilhação, ao passo que, se manifestarem admiração e respeito, nos sentiremos elevados, estimulados e sexualmente um tanto excitados.

Dependemos, pois, da reação das outras pessoas (os observadores). Não há como desconsiderar o fato de que nosso estado de alma é muito influenciado pela forma como nossa pessoa – ou algo que tenhamos feito – será recebida. Isso explica considerações que as famílias sempre fizeram aos seus filhos adolescentes acerca da importância de terem um comportamento compatível com a opinião média dos vizinhos. Quem nunca ouviu ou pensou sozinho acerca do que é que os outros vão falar ou pensar a nosso respeito?

Quanto mais dependemos da opinião dos outros para nos sentirmos bem, menor será nossa liberdade individual. Pensaremos duas vezes antes de tomarmos alguma atitude menos comum. Pensaremos na repercussão que nossos atos, nossa forma de vestir e até mesmo nossos pensamentos terão sobre os outros. Os outros passam a ser nossos juízes, aqueles que julgarão se somos ou não criaturas legais, dignas. A vaidade nos leva, pois, a uma situação muito delicada na qual nós somos os juízes dos outros e os outros serão os que irão dizer se somos ou não criaturas válidas.

Quanto maior a vaidade, maior a dependência que temos das outras pessoas. Assim, os outros se transformam nos OUTROS, observadores todo-poderosos aos quais devemos obediência. O paradoxo é inevitável: para chamar a atenção deles temos que nos destacar, nos diferenciar. Se o fizermos de uma forma inaceitável, segundo os critérios deles, seremos objeto de chacota e ironia. Como fazer? Onde encontrar coragem para arriscar e correr o risco de desagradar os OUTROS?

Na grande maioria dos casos, a questão se resolve apenas no plano da quantidade e não da qualidade. Ou seja, as pessoas buscam o destaque pela via da aquisição de uma quantidade maior de algo que seja valorizado por todos. Terão mais dinheiro, mais conhecimento, serão mais magras, mais belas (e recorrerão aos melhores cirurgiões para chegar a isso), mais viajadas etc. Usarão roupas caras e terão muitas delas. Não usarão, porém, aquelas que não sejam aprovadas pela maioria, as que não possuem uma grife (certificado de garantia de que se trata de algo precioso). Terão muitos carros, muitos relógios, farão dietas incríveis e dirão que são magras por força da natureza. A política do destaque será regida pelo lema mais do mesmo. As pessoas poderosas têm, portanto, muito das mesmas coisas; e são admiradas por isso. Destaque sem correr o risco de decepcionar OS OUTROS e serem objeto de rejeição e humilhação.

É claro que uma pessoa pode ser mais corajosa e tentar se destacar por ser, agir e pensar de uma forma original. Quase sempre será objeto de reações variadas e dificilmente agradará a todos os observadores. Será tida como pessoa extravagante e talvez desperte mais inveja pela coragem do que pelo modo de se comportar. Nossas sociedades permitem uma cota maior de originalidade aos artistas e a alguns intelectuais, criaturas responsáveis pelas inovações. Sim, porque a busca de destaque pelo caminho apenas de ter mais do mesmo não leva a nada de novo (o que acabaria por determinar a estagnação geral).

Sabemos que existem algumas pessoas com mais coragem para se exibir de forma incomum mesmo sem serem portadoras de grandes talentos. São poucas e, principalmente na adolescência, acabam se filiando a alguma tribo minoritária, passando a agir de acordo com o padrão daquele subgrupo. O desejo de destaque é grande e na falta de criatividade acabam por se integrar numa turma onde a originalidade é duvidosa e a extravagância é um objetivo em si mesmo. Penso que os punks sejam um bom exemplo disso. Não é essa a liberdade que me encanta. A que me encanta é a de não abrirmos mão de nossas convicções mesmo se venhamos a bater de frente com a opinião dos OUTROS. Ou, como dizia Santo Agostinho, que reconhecia, é claro, a presença da vaidade em si mesmo: entre a vaidade e a verdade eu não tenho dúvidas acerca do caminho a escolher.

Flávio Gikovate é médico psicoterapeuta, pioneiro da terapia sexual no Brasil.

Fonte: http://www.flaviogikovate.com.br

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De Georges da Silva e Rita Homenko

Texto extraído do livro: “Budismo: Psicologia do Autoconhecimento”

Certa vez, Gautama Buda visitou uma pequena vila chamada Kesaputra, no reino de Kosala, cujos habitantes se chamavam Kalamas. Eles fizeram a seguinte pergunta ao Buda:

“Senhor, alguns anacoretas e brâmanes que passaram por nossa vila divulgaram e exaltaram suas próprias doutrinas e condenaram e desprezaram as doutrinas dos outros. Depois, passaram outros que também, por sua vez, divulgaram e exaltaram as suas doutrinas e também condenaram e desprezaram as doutrinas dos outros. Mas nós, Senhor, estamos sempre em dúvida e perplexos, sem saber qual desses veneráveis expôs a verdade e qual deles mentiu.”

Então o Buda respondeu:

“Sim, é justa a dúvida que sentis, pois ela se originou de um assunto duvidoso. Agora prestem atenção: não vos deixeis guiar pelas palavras dos outros, nem por tradições existentes, nem por rumores. Não vos deixeis guiar pela autoridade dos textos religiosos, nem por simples lógica ou dedução, nem por aparências, nem pelo prazer da especulação sobre opiniões, nem por verossimilhanças possíveis, nem por simples impressão ou pela idéia: ‘Ele é nosso mestre’. Mas, Kalamas, desde que souberdes e sentirdes, por vós mesmos, que certas coisas são desfavoráveis, falsas e ruins, então renunciai a elas.., e quando souberdes e sentirdes, por vós mesmos, que certas coisas são favoráveis e boas, então deveis aceitá-las e segui-las.”

Respondendo aos bhikkhus2 (monges) disse:

“Um discípulo deve examinar a questão mesmo quando o Tathagata (o próprio Buda) a propõe, pois o discípulo deve estar inteiramente convencido do valor real do seu ensinamento – Não acreditem no que o mestre diz simplesmente por respeito à personalidade dele.” (Anguttara-Nikaya III, 65)

Asoka, imperador da Índia no III século a. C., seguindo o nobre exemplo de tolerância e compreensão de Gautama Buda, honrou e sustentou todas as religiões do seu vasto império. Hoje ainda é legível a inscrição original de um de seus editos gravados na rocha:

“Não devemos honrar somente nossa religião, condenando as outras; devemos acima de tudo respeitar todas as crenças, pois sempre há algo a ser apreciado por esta ou aquela razão. Agindo desta forma, glorificamos nossa própria crença e prestamos serviço às demais. De outro modo, prejudicamos a nossa própria religião e fazemos mal à dos outros. Por conseguinte, que todos escutem e estejam dispostos a não se fecharem às doutrinas professadas pelos demais.”

Esse espírito de mútua compreensão deveria ser aplicado não somente em matéria de doutrina religiosa, mas também em assuntos nacionais, políticos, sociais e econômicos.

O Budismo se apresenta sob a forma de um sistema psicológico, moral e filosófico baseado na raiz dos fatos, que podem ser testados e verificados pela experiência pessoal, pois é racional e prático, isento de doutrinas esotéricas (ocultas).

O espírito de tolerância e compreensão foi sempre um dos ideais da cultura e civilização budista. A seu crédito deve ser dito que, durante um período pacífico de 2 500 anos, nenhuma gota de sangue foi derramada em nome do Budismo e nenhuma conversão jamais foi feita quer pela força, ou por qualquer outro método de repressão.

Notas:

  1. Sutta (pali) ou sutra (sânscrito): discursos de Gautama Buda, em prosa, que podem ser facilmente compreendidos.
  2. Bhikkhu: monge budista da Escola Theravada.

Fonte: http://www.nossacasa.net/shunya/default.asp?menu=499

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Passemos a outra questão: o modo de tratarmos com o nosso semelhante. Como devemos agir, que preceitos ministrar? Que não derramemos sangue humano? Ao nosso semelhante devemos fazer o bem: aconselhar a não lhe fazer mal, que ridículo! Até parece que encontrar algum homem que não seja uma fera para os outros já é coisa merecedora de encómios… Vamos aconselhar a que se estenda a mão ao náufrago, se indique o caminho a quem anda perdido, se divida o pão com o esfomeado? Mas para que hei-de eu enumerar todos os atos que devemos ou não devemos praticar quando posso numa só frase resumir todos os nossos deveres para com os outros? Tudo quanto vês, este espaço em que se contém o divino e o humano, é uno, e nós não somos senão os membros de um vasto corpo. A natureza gerou-nos como uma só família, pois nos criou da mesma matéria e nos dará o mesmo destino; a natureza faz-nos sentir amor uns pelos outros, e aponta-nos a vida em sociedade. A natureza determinou tudo quanto é lícito e justo; pela própria lei da natureza, é mais terrível fazer o mal do que sofrê-lo; em obediência à natureza, as nossas mãos devem estar prontas a auxiliar quem delas necessite. Devemos ter gravado na alma, e sempre na ponta da língua, o verso famoso: “sou homem, tudo quanto é humano me concerne!” (Terêncio). Possuamos tudo em comunidade, uma vez que como comunidade fomos gerados. A sociedade humana assemelha-se em tudo a um arco abobadado: as pedras que, sozinhas, cairiam, sustentam-se mutuamente, e assim conseguem manter-se firmes!

Sêneca, in ‘Cartas a Lucílio’

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O sábio, ainda que se baste a si mesmo, deseja ter um amigo, quanto mais não fosse para exercer a amizade, para não deixar definhar tão grande virtude. Ele não busca, como dizia Epicuro, «alguém que lhe vele à cabeceira em caso de doença, que o socorra quando esteja em grilhões ou na indigência». Busca alguém a cuja cabeceira de doente possa velar; alguém que, quando implicado numa contenda, ele possa salvar dos cárceres inimigos. Pensar em si próprio, e empenhar-se numa amizade com esse pensamento preconcebido, é cometer um erro de cálculo. A empresa terminará como começou. Fulano arranjou um amigo para dispor, um dia, de um libertador que o preserve dos grilhões. Ao primeiro tinido de cadeias, lá se vai o amigo.

Tais são as amizades que o mundo chama de «ligações temporárias». O homem a quem se escolhe para prestar serviços deixará de agradar no dia em que não sirva para mais nada. Daí a constelação de amigos ao redor das grandes fortunas. Vinda a ruína, faz-se, à volta, a solidão: os amigos esquivam-se dos lugares onde são postos à prova. Daí, todos esses escândalos: amigos abandonados, amigos traídos, sempre por medo! É inevitável que o fim concorde com o começo: o interesse fez de sicrano teu amigo; o interesse fará com que ele deixe de sê-lo. Ele se mostrará sensível às vantagens que lhe sejam oferecidas para que dessirva a amizade, se, nesta, mostrava-se sensível a qualquer vantagem fora dela mesma.

Qual, então, o meu objetivo ao fazer um amigo? O de ter alguém por quem possa morrer, a quem possa seguir no meu exílio, a quem possa proteger com a minha pessoa, a cuja salvação possa devotar os meus dias.

Sêneca, in ‘O Sábio e a Amizade’

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